Aquilo que não falamos sobre

Crítica: Sinners (2025)

 

Divulgação: WARNER BROS. 

Crítica: Sinners - A obra se eleva como um musical disfarçado, impregnado de subtextos.

Admito que parti de uma posição bastante privilegiada antes mesmo de assistir ao filme. Não sabia absolutamente nada sobre o enredo, os personagens ou mesmo o elemento sobrenatural. A única informação que eu tinha era: O filme é bom. Muito bom.

Michael B. Jordan, como muitas superestrelas de Hollywood, sinalizam uma obra preguiçosa. Não que eu tenha algum tipo de aversão ou desprezo por blockbusters — nada disso. A verdade é que simplesmente não costumo gastar muito do meu tempo assistindo a filmes. Então, quando assisto, prefiro escolher aqueles que são considerados pela maioria, realmente bons.

E quando crio esse tipo de expectativa em relação ao que estou assistindo, acabo analisando tudo com um olhar ainda mais crítico. Um bom exemplo disso é o quanto achei Anora pouco impressionante. Divertido? Sim. Mas o 'melhor filme do ano'? Fosse uma recomendação menos enfática, certamente seria mais apreciado.

Quando Sinners começou, tive a sensação de que estavam despejando óleo no motor sem acioná-lo. Certo — os personagens são, de fato, interessantes, carismáticos. Mas para onde tudo isso está indo? Com que propósito? Em certos momentos, parece que vão puxar a corda, o motor ameaça ganhar vida, mas logo volta ao zero. Eis o maior defeito do filme: um ritmo um tanto desajeitado.

Mas logo percebi, os Vingadores estão sendo reunidos para um ato bombástico. Todos os caminhos convergem a um só lugar.

Uma primeira parte melhor no fim

Sinners é um musical. Embora muitos possam sair da sala sem se dar conta disso. As canções surgem de forma orgânica, entrelaçadas aos acontecimentos. Isso não é mérito, ou demérito. Mas dado o produto e sua proposta, é a batida certa. Os números musicais são marcantes. Mesmo quem não costuma apreciar filmes do gênero dificilmente vai se incomodar. (A montagem da cena onde a música transcende o tempo, é de fato, transcendente)

À medida que se aproxima do fim, o primeiro ato — interessante, ainda que de ritmo contido — ganha força, quando os arcos começam a ganhar forma e se revelam.

O protagonista — ou melhor, os protagonistas — são figuras extremamente carismáticas. Daquele tipo que você simplesmente quer acompanhar. Moralmente cinzas, charmosos e em nítido contraste com o ambiente. E mesmo o elenco de apoio, ainda que menos cintilante, é composto por personagens dignos de serem chamados indivíduos — e não meras engrenagens a serviço do enredo.

O sobrenatural ancora o filme

É o fator sobrenatural que faz deste filme o que ele é. É sua marca identitária, seu ponto de interesse. É isso que permanecerá na memória quando voltarem a falar dele no futuro. Sempre vejo com bons olhos quando um filme abraça sua natureza e não se envergonha de ser o que é. No entanto, curiosamente, o sobrenatural não parece ser, aos olhos da própria obra, seu eixo central, nem seu elemento mais importante. Tampouco há a intenção de expandir sua mitologia sobre vampiros ou explicar seu funcionamento. Pouco sutil, essa contradição é curiosamente saborosa.

Os vampiros, bem... são vampiros. Não gostam de alho, só entram quando convidados. O filme assume que você já conhece esses estereótipos —não precisa explicá-los. E esse é, ao meu ver, um trunfo.

Um novo clássico blockbuster

Sinners tem muito a dizer, e você deve experimentá-lo por si. Não sou crítico de cinema — pelo menos, não um profissional. Mas é nítido que há problemas na condução de um ritmo apropriado para a história. A fotografia é bonita, mas não é nenhum Nosferatu de Eggers. É gostoso de acompanhar (e você não vai querer perder um minuto), mas, ao mesmo tempo, vai perceber que a história se arrasta um pouco mais do que o necessário. Talvez demore demais para começar, e, quando finalmente começa, demora para terminar. As piadas funcionam! E a caracterização dos vilões é muito boa. (A construção, especialmente do Remmick, é realmente excelente).

A exploração de temas sensíveis é feita de forma natural, sem pretensões professorais. O filme não tenta, a todo custo, te educar sobre o que já te deveria ser óbvio. Jordan Peele certamente surge como uma grande fonte de inspiração aqui. E o final é bom, algo que tenho notado ser um fator determinante aos olhos do público.

Então, mesmo que não seja perfeito, é um excelente exemplo do que deveria ser um bom filme de Hollywood. Tem conteúdo, mensagem, entretém e, sem dúvida, não é desprovido de alma.

É um bom filme.

NOTA FINAL: 1800 / 1990

Heitor

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